Raíssa França Especial para a BBC News Brasil, em Maceió
Esse juramento nunca fez
tanto sentido como há poucos dias, quando descobriram, por acaso, que estava
com covid-19. Os dois se trataram e se curaram da doença provocada pelo novo coronavírus.
Jovino e Zélia Feitosa são casados há 65 anos e enfretaram a covid-19
juntos
|
Pela idade, os dois
faziam parte do grupo de risco para a doença. O casal mora em Maceió e não é de
muitas palavras. À BBC News Brasil, apenas o agropecuarista aposentado Jovino
falou, de maneira breve.
"Estou muito bem. O
corona veio, eu peguei ele pelas orelhas e botei pra fora", brincou.
"Estou muito bem e acompanhado pela família, graças a Deus."
Em um vídeo gravado por
Jovino, ele se despede da doença: "Adeus, covid, até nunca mais".
Segundo
um dos netos do casal, o empresário Sérgio Feitosa, os avós não apresentavam os
sintomas da doença, e a descoberta só veio após Zélia ter ido a um hospital
particular para tratar um corte na perna que não cicatrizava.
"Isso
aconteceu em 30 de março. Levamos ela ao hospital e quando tiraram os sinais
vitais dela, ela estava com a saturação (de oxigênio) baixa. Foi aí que fizeram
uma exame que deu pneumonia e suspeitaram da covid-19", comentou.
De acordo com ele, foram
feitos dois testes para covid-19, analisados em laboratórios de diferentes
Estados.
O de Alagoas deu
negativo, mas o feito em Minas Gerais deu positivo. "Aí foi preciso fazer
um terceiro teste rápido, em Maceió, que apontou resultado positivo", contou
o neto.
A essa altura, havia uma
grande preocupação também com a probabilidade de Jovino, o avô, também ter pego
o coronavírus.
Jovino é sete anos mais
velho do que Zélia e tem fibrose pulmonar - por isso, já precisa usar um
cilindro de oxigênio.
"Ele sempre ficou
em alguns momentos mais cansado e teve diarreia e falta de apetite. Não achamos
que ele estava com a doença, porque esses sintomas sempre foram 'normais'. Mas,
quando fizemos o teste nele, deu positivo", disse Feitosa.
Os membros da família e
três funcionários que trabalham na residência também fizeram os testes, mas
todos deram negativo para covid-19.
Não se sabe como os avós
contraíram o vírus, já que eles não saem de casa. "Acredito que foi alguma
visita, ou alguém assintomático. Estamos achando que está acontecendo muita
desinformação em relação aos casos de coronavírus no Estado. Se a gente não
tivesse levado minha avó para o hospital, não saberia que ela estava
doente", explicou.
Tratamento separado
Ambos foram tratados por
médicos particulares. Zélia precisou ser internada, mas Jovino ficou em casa.
Mesmo separados, os dois receberam praticamente o mesmo tratamento.
Maioria das mortes no Brasil foi de pessoas acima de 60 anos |
O pneumologista Tadeu
Lopes, do Hospital Memorial Arthur Ramos, tratou Zélia e contou à BBC News
Brasil que a idosa ficou internada por 13 dias, alguns deles na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI).
Segundo
o médico, o caso foi considerado grave, mas ela não precisou ficar entubada.
Ela foi tratada com uma combinação de hidroxicloroquina, dois antibióticos
(azitromicina e ceftarolina) e um antiviral, o Tamiflu, indicado para gripe.
"Ela evoluiu bem e
respondeu satisfatoriamente às medicações, não apresentando reações à
hidroxicloroquina ou efeitos colaterais", explicou o médico.
Segundo Lopes, Zélia
pode ser considerada recuperada. "Se levarmos em conta os critérios
clínicos, sim, ela está assintomática no momento", disse o médico.
Já Jovino foi tratado em
casa por uma equipe de profissionais da saúde, entre eles a pneumologista
Fátima Alécio, que disse que o estado de saúde de Jovino era considerado
"moderado estável."
"Seguindo o
protocolo do Ministério da Saúde, utilizei o tratamento com hidroxicloroquina e
azitromicina. Mas ele estava estável, sendo tratado em casa, com assistência
médica 24h e tinha toda uma estrutura de hospital", disse ela.
Alécio enfatizou que não
há recomendação para que as pessoas tomem medicamentos por conta própria sem
supervisão médica. "Se alguém está sentindo algo, deve procurar uma
unidade de saúde e receber orientação médica."
Para a família, a cura
de ambos, diante de tantas mortes de idosos pela covid-19 — 73% dos pacientes
que vieram a óbito no Brasil têm mais de 60 anos, de acordo com os dados mais
recentes do ministério da Saúde —, pode ser considerada um milagre.
"A nossa família
crê muito em Deus, e nós acreditamos que isso foi um milagre, que eles são
muito abençoados. Eles estão bem em casa", disse o neto do casal.
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