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sexta-feira, 10 de abril de 2020

BAHIA NÃO TERÁ LEITOS DE UTI PARA COVID-19 MESMO EM CENÁRIO MAIS OTIMISTA, APONTA PROJEÇÃO


Redação A TARDE
A Bahia não terá leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) suficientes para atender pacientes com coronavírus, mesmo considerando projeções otimistas para o avanço da pandemia no estado, que levam em conta uma contaminação da população em ritmo mais lento. É o que apontam pesquisadores que estudam a proliferação do vírus e seu potencial impacto no sistema de saúde baiano. 

O estado ainda vive a fase inicial da doença, mas, mantida a taxa de crescimento do Covid-19 após o centésimo caso, de 12,8%, e mesmo com a recuperação de 30% dos pacientes, é possível prever falta de vagas em UTI já na primeira quinzena de maio. A avaliação é do professor de Economia da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Cleiton Silva de Jesus. A pedido de A TARDE, ele fez projeções sobre a escalada da pandemia e como isso deve pressionar a infraestrutura de saúde na Bahia. Cleiton e a estudante de Economia Yasmin Oliveira foram autores de outro estudo que mostrou que o estado pode ter 1 milhão de infectados, ao mesmo tempo, em meados do próximo mês.

No cenário mais otimista, em que 0,5% da população baiana seria contaminada, seriam necessários pelo menos 11 mil novas vagas de internação hospitalar e 4 mil novos leitos de UTI. O número considera estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que 14% dos infectados precisarão de hospitalização para quadros menos graves e ao menos 5% necessitarão de atenção maior e equipamentos de terapia intensiva, como respiradores. A taxa de infecção de 0,5% será alcançada quando 80 mil baianos tiverem com Covid-19. Segundo dados divulgados ontem em boletim da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), 568 casos foram confirmados no estado.

O professor pontua que, neste cenário, “mesmo com a criação de 1 mil ou 2 mil novos leitos de UTI ao longo das próximas semanas, o que é algo bastante desafiador, o sistema de saúde baiano entraria em colapso”. Segundo a Sesab, somente o governo estadual pretende abrir 915 novos leitos de UTI para pacientes com coronavírus. Cento e quarenta deles serão montados no antigo Hospital Espanhol, reaberto pela gestão para atender casos da doença. Até o momento, segundo dados atualizados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), a Bahia tem 539 vagas de UTI para adultos, todos na rede privada, e 8 unidades pediátricas, também fora do Sistema Único de Saúde (SUS).

Em um cenário no qual 12% dos contaminados precisassem de cuidados intensivos, como na Itália, a situação fica ainda mais aguda, segundo o professor. Seriam necessários 9 mil leitos de UTI a mais. Já num contexto mais grave, de 1% de baianos infectados, em torno de 150 mil pessoas, caso 5% dos pacientes fossem mais críticos, o estado precisa ter 7.450 UTIs novas. Com 12%, o número necessário subiria para 17.880.

Outra estimativa, feita por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta que o estado deve ter falta de unidades para pacientes mais graves a partir do dia 27 de maio. Ainda segundo a projeção, a Bahia levaria 18 dias sem leitos de terapia intensiva. A escassez de unidades aconteceria poucos dias do pico de contaminação por Covid-19, que, segundo a pesquisa, ocorreria em 22 de maio.

Os números são de uma plataforma do Laboratório de Tecnologias de Apoio à Decisão em Saúde (Labdec), da Faculdade de Medicina da UFMG. O dispositivo faz simulações realistas sobre a velocidade com que os leitos serão ocupados nas próximas semanas, permitindo com que os governos possam ter ideia dos impactos da pandemia no sistema de saúde. 

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