Redação A TARDE
A Bahia
não terá leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) suficientes para atender
pacientes com coronavírus, mesmo considerando projeções otimistas para o avanço
da pandemia no estado, que levam em conta uma contaminação da população em
ritmo mais lento. É o que apontam pesquisadores que estudam a proliferação do
vírus e seu potencial impacto no sistema de saúde baiano.
O estado ainda vive a fase inicial da doença, mas, mantida a
taxa de crescimento do Covid-19 após o centésimo caso, de 12,8%, e mesmo com a
recuperação de 30% dos pacientes, é possível prever falta de vagas em UTI já na
primeira quinzena de maio. A avaliação é do professor de Economia da
Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Cleiton Silva de Jesus. A
pedido de A TARDE, ele fez projeções
sobre a escalada da pandemia e como isso deve pressionar a infraestrutura de
saúde na Bahia. Cleiton e a estudante de Economia Yasmin Oliveira foram autores
de outro estudo que mostrou que o estado pode ter 1 milhão de infectados, ao
mesmo tempo, em meados do próximo mês.
No cenário mais otimista, em que 0,5% da população baiana seria
contaminada, seriam necessários pelo menos 11 mil novas vagas de internação
hospitalar e 4 mil novos leitos de UTI. O número considera estimativas da
Organização Mundial da Saúde (OMS) de que 14% dos infectados precisarão de
hospitalização para quadros menos graves e ao menos 5% necessitarão de atenção
maior e equipamentos de terapia intensiva, como respiradores. A taxa de
infecção de 0,5% será alcançada quando 80 mil baianos tiverem com Covid-19.
Segundo dados divulgados ontem em boletim da Secretaria de Saúde da Bahia
(Sesab), 568 casos foram confirmados no estado.
O professor pontua que, neste cenário, “mesmo com a criação de 1
mil ou 2 mil novos leitos de UTI ao longo das próximas semanas, o que é algo
bastante desafiador, o sistema de saúde baiano entraria em colapso”. Segundo a
Sesab, somente o governo estadual pretende abrir 915 novos leitos de UTI para
pacientes com coronavírus. Cento e quarenta deles serão montados no antigo
Hospital Espanhol, reaberto pela gestão para atender casos da doença. Até o
momento, segundo dados atualizados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de
Saúde (CNES), a Bahia tem 539 vagas de UTI para adultos, todos na rede privada,
e 8 unidades pediátricas, também fora do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em um cenário no qual 12% dos contaminados precisassem de
cuidados intensivos, como na Itália, a situação fica ainda mais aguda, segundo
o professor. Seriam necessários 9 mil leitos de UTI a mais. Já num contexto
mais grave, de 1% de baianos infectados, em torno de 150 mil pessoas, caso 5%
dos pacientes fossem mais críticos, o estado precisa ter 7.450 UTIs novas. Com
12%, o número necessário subiria para 17.880.
Outra estimativa, feita por um grupo de pesquisadores da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta que o estado deve ter falta
de unidades para pacientes mais graves a partir do dia 27 de maio. Ainda
segundo a projeção, a Bahia levaria 18 dias sem leitos de terapia intensiva. A
escassez de unidades aconteceria poucos dias do pico de contaminação por
Covid-19, que, segundo a pesquisa, ocorreria em 22 de maio.
Os números são de uma plataforma do Laboratório de Tecnologias
de Apoio à Decisão em Saúde (Labdec), da Faculdade de Medicina da UFMG. O
dispositivo faz simulações realistas sobre a velocidade com que os leitos serão
ocupados nas próximas semanas, permitindo com que os governos possam ter ideia
dos impactos da pandemia no sistema de saúde.
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