Por Marlowe Hood | AFP
Da cabeça à
ponta dos pés, passando pelos pulmões ou os rins. A lista de sintomas
provocados pelo novo coronavírus aumenta a cada semana e poucos órgãos parecem
a salvo da doença, com formas que variam de benignas a muito graves.
Dezenas de estudos médicos descrevem outras consequências potencialmente letais da doença, como acidentes vasculares cerebrais e problemas cardíacosFelipe Iruatã | Ag. A TARDE |
Em três meses,
o que começou como uma gripe clássica se transformou em um catálogo de
síndromes que em suas formas mais graves ativam as já famosas “tempestades de
citocinas”, uma aceleração da reação imunológica que pode levar à morte.
Não é raro que
um vírus provoque tantas manifestações, mas alguns sintomas da SARS-CoV-2, como
a perda de olfato ou a formação de coágulos sanguíneos parecem muito
específicos desta epidemia.
“A maioria dos
vírus podem prejudicar o tecido onde se reproduzem ou provocar danos colaterais
do sistema imunológico que combate as infecções”, explica Jeremy Rossman,
virologista da universidade britânica de Kent.
Os médicos
suspeitam que a COVID-19 é responsável pela hospitalização de dezenas de
crianças em Nova York, Londres e Paris que apresentam quadros inflamatórios
“multissistêmicos” raros, que se assemelham a uma forma atípica da doença de
Kawasaki ou uma síndrome de choque tóxico, que ataca as paredes das artérias e
pode provocar uma falência dos órgãos.
Dezenas de
estudos médicos descrevem outras consequências potencialmente letais da doença,
como acidentes vasculares cerebrais e problemas cardíacos.
Os cientistas
da Universidade de Medicina de Nanjing (China) reportaram casos de pacientes
que desenvolveram complicações urinárias e problemas renais agudos.
Também
observaram alterações nos hormônios sexuais masculinos, motivo pelo qual
aconselham os jovens que desejam ter filhos que consultem um médico após a
recuperação.
“Desconfiar de quase tudo”
O leque de
sintomas é único? Não necessariamente. “Em uma doença corrente, as
complicações, mesmo que raras, também acontecem”, explica à AFP Babak Javid,
especialista em doenças infecciosas do centro hospitalar universitário de
Cambridge.
Mais de quatro
milhões de casos foram declarados no mundo, mas o verdadeiro número de
infecções pode ser “de dezenas ou inclusive centenas de milhões”, de acordo com
Javid. “Se uma pessoa em cada mil, ou inclusive uma a cada 10.000, desenvolve
complicações, isto significa realmente milhares de pessoas”.
Os médicos
generalistas, na frente de batalha, foram os primeiros a tentar descobrir os
esquemas da evolução da epidemia.
“Nos afirmaram
em um primeiro momento: febre, dor de cabeça, tosse. Depois adicionaram o nariz
com coriza, a garganta que arranha. Depois, alguns sintomas digestivos:
diarreia, dor de estômago”, afirma Sylvie Monnoye, médica de família em Paris.
Depois as dores
na caixa torácica, a perda do paladar e do olfato, problemas de pele como
urticária ou frieira nos dedos dos pés, problemas neurológicos… “Começamos a
pensar que era necessário desconfiar de quase tudo” comenta a doutora Monnoye.
Lentidão das autoridades de saúde
Um relatório
do Centro de Prevenção e Luta contra as Doenças (CDC) dos Estados Unidos
analisou os sintomas de 2.591 pacientes hospitalizados entre 1 de março e 1 de
maio.
Quase 75% dos
pacientes apresentaram calafrios, febre e/ou tosse, e quase todos dificuldades
respiratórias, os sintomas mais comuns do novo coronavírus.
Quase um terço
reclamou de cãibras, o mesmo percentual de diarreia; 25% de náuseas ou vômitos.
Quase 18% tinham dores de cabeça, de 10 a 15% tinham problemas pulmonares ou
abdominais, nariz escorrendo, dores de garganta.
Até o fim de
abril, o CDC havia enumerado apenas três sintomas: tosse, febre e dificuldades
respiratórias. O site oficial foi atualizado desde então, mas adicionou apenas
os calafrios, cãibras, dor de cabeça e perda de olfato. As autoridades
francesas fizeram o mesmo no início de maio.
Coágulos sanguíneos, falhas renais
A perda do
olfato (anosmia) e do paladar (ageusia) foi reportada por 3,5% dos pacientes do
estudo do CDC, mas os especialistas acreditam que estes sintomas são mais
extensos entre os casos menos graves.
A anosmia e a
ageusia acontecem raramente com outros vírus. O mesmo ocorre com os coágulos
sanguíneos, que os estudos vinculam com problemas cardíacos, trombose
hepáticas, embolias pulmonares e lesões cerebrais nos pacientes de COVID-19.
“Quando um
paciente de COVID-19 está muito afetado, pode ter problemas de coágulos
sanguíneos, que são muito mais frequentes que com outros vírus”, segundo Babak
Javid, que conclui: “Comparado com a gripe, há muito mais probabilidades de
estar grave e de morrer”.
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